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No quarto de Igor

setembro 29, 2008

No quarto de Igor

Numa noite fria e chuvosa, Igor buscou velas e agasalho. Há muito estava escuro. A tempestade era a culpada. Ele teimou em buscar o livro ainda. Havia esquecido. Agora, com tantas velas e o livro, deitado, devidamente coberto pôde se concentrar nas palavras. Não queria ser incomodado, todos os seus conhecidos e até seu cachorro sabiam, que ele não suportava ser interrompido em suas leituras, sempre iniciadas a partir das 8 da noite. Era um momento sagrado para ele. Uma vez, numa febre, a querer terminar um livro, passou um dia em claro, caindo de exausto na tarde do outro dia.

Igor não era forte nem belo, mas gostava de se pôr acima dos outros. Era o rei da sua solidão. Amava o vazio do seu quarto, aquele silêncio, a companhia dos livros. Não gostava de ruídos, amava o silêncio. De música só suportava o som dos violinos. Naquela noite, sem notar, com a face encostada no livro, adormeceu. Súbito, uma imagem que se movia como serpente parou diante de sua cama, brincando com a chama das velas em volta da cama.

Recolheu em suas mãos um livro que estava na estante, abriu-o e leu algumas frases. – Ah, recordo-me bem… Era o livro de Jó. Muito daquele livro era responsabilidade daquele que estava no quarto com Igor. Deixou o livro cair de suas mão e sentou na borda da cama, ao lado de Igor. Tocou seus pés, sentiu os sonhos, e sem acordá-lo tocou seu sexo, conduzindo seu sonho até a imagem de um deserto, onde uma mulher em plena nudez seduzia-o com seus toques. O sonho logo se desfez, pois o ser se ausentou da cama e em vulto foi até a estante. Calmamente posicionado diante da estante, puxou um livro de sua manga comprida e o pôs junto com os outros. Um livro brilhante, um preto vivo, vibrante. Observou novamente Igor e sumiu silenciosamente sem deixar rastro, fumaça ou cheiro algum.

Em calafrios, Igor levanta-se num salto, como se tomado pela loucura. Nota o livro na estante bem a sua frente. Como se só pudesse notá-lo entre os outros. Levantou-se, pegou-o. Nada em sua capa a não ser uma sigla. Iniciais do autor talvez. Abriu-o e como título só pôde ler antes da queda do livro A morte de Igor, autor Lúcifer, a Serpente Pisoteada.

Autor: Josi Vice