O suicídio não é uma aventura. O suicídio é um fim. Mas Clarence não queria o fim. Para ela era um meio de alcançar a sim mesma escolhendo a própria morte.
Já eu lembro-me de não ser o melhor amigo do meu pai. Nunca fui o melhor amigo, nunca fui o melhor amante, nunca fui a paixão, o grande amor, o herói de alguém. Nunca fui o bom filho nem o neto amado.
Lembro-me de criar situações, amores, tentando me encaixar. Não sei deixar de ser egoísta, fingido, dissimulado, dissimulado, uma anedota, um jogo de tédio.
Lembro-me da ausência do meu pai, do autoritarismo da minha mãe, da minha revolta, das revistas pornôs, de ir me descobrindo sexualmente de forma solitária e libertina.
Lembro-me de querer andar como meu pai, ser forte e bom em tudo como ele. Lembro-me do medo de me perder na multidão. Heróis caem e meu pai não é mais meu herói. Nem o conheço muito.
Sempre tive um relacionamento tenso com minha mãe. Horas determinadas, ler obrigatórias, gritos, xingamentos, poucas saídas, desconfiança, castigos, surras, marcas, raiva, ódio, mágoa, rancor, solidão, frustração.
Sempre enfilirei meus amigos, classificando-os de acordo com uma classificação especial. Mas eu imagino que nunca fui o melhor amigo de alguém. Deveras.
Lembro-me de ir crescendo, de ir caindo, até ir levando a vida com interesses, intenções, desconfiando de tudo, assustado, agitado, nervoso, sem habilidade.